Sistema carcerário potiguar. Ca(os)rcerário... Sistema?
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Foto: MP |
Uma boa parcela da população se sentiu surpreendida hoje com as rebeliões em série e com alguns ônibus queimados. Um amigo que não é jurista me enviou uma mensagem pelo WhatsApp:
- Que loucura é essa nos presídios? E ônibus queimados? Que está acontecendo?
Em 20013, o Conselho Nacional de Justiça – CNJ – realizou um mutirão carcerário no Rio Grande do Norte. O Ministro Joaquim Barbosa, que presidia o STF e o CNJ, em louvável iniciativa, foi pessoalmente verificar as condições dos estabelecimentos prisionais potiguares. Segundo ele, tal sistema prisional era “muito desumano” e “caótico”. Matéria do Portal do CNJ (aqui) descrevia o cenário:
“celas sem ventilação ou iluminação, gambiarras nas fiações elétricas, urina escorrendo pelos corredores, estrutura física do pavilhão completamente degradada, forte cheiro de urina e fezes, além de problemas com o sistema de esgoto, que está empoçado ao lado do local.”O Brasil ratificou a Convenção Americana Sobre Direitos Humanos – Pacto de São José da Costa Rica (Decreto nº 678/1992), que em seu art. 5º, 6, diz que “As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados”. Isso nos obriga normativamente. Ocorre que a execução penal, não só no Rio Grande do Norte mas no Brasil todo, se materializa de maneira completamente desumana e violadora dos direitos fundamentais mais básicos. Mas podemos, lamentavelmente, dizer que nesse ponto somos destaque: o Relatório do CNJ identificou que no Rio Grande do Norte, em 2013, havia 4.757 presos para um total de 2.539 vagas. Isto é, um déficit de 2.174 vagas, o que representa uma superlotação de 188%. Assim, nosso sistema prisional não cumpre esse requisito. Somente em Natal o déficit foi de 1.037 vagas. E diz o relatório do CNJ, acerca do Complexo Penal João Chaves:
[...] não há sequer banho de sol. A superlotação é um problema sério [...] A unidade semiaberta mais parece um lixão. Lixo por toda a parte. Só não há ratos porque a quantidade de gatos é enorme devido à comida espalhada pelo chão.Sobre a Cadeia Pública de Natal:
O estabelecimento está com sua capacidade acima do dobro. As celas estão superlotadas, não possuem ventilação e há falta grave de higiene. [...] Mesmo havendo condenados, a unidade não conta com oficinas ou oportunidades para a remição da pena.Sobre o Centro de Detenção Provisória da Ribeira:
Esta unidade sequer deveria estar em funcionamento. [...] Assemelha-se a uma masmorra posto que escura, úmida e sem ventilação.Sobre o Centro de Detenção Provisória da Zona Norte: “Assim como nas demais unidades, a superlotação é fator preponderante”.
Sobre a Penitenciária de Parnamirim:
Mesmo que haja superlotação (...) o problema mais sério é o esgoto de dejeto dos presos que corre a céu aberto e é despejado diretamente na nascente de um rio o qual, inclusive, abastece as cidades de Natal e Parnamirim.A Penitenciária de Alcaçuz:
A maior unidade do estado, mesmo que possua capacidade máxima para 420 presos, conta hoje com 705, quase o dobro de sua capacidade. [...] retrata bem a realidade de todo o sistema prisional do estado. Superlotação, falta de investimento, abandono, celas escuras, fétidas, sem ventilação, lixo espalhado pelos pavilhões, esgoto a céu aberto, falta de assistência material e à saúde, dentre tantas outras carências.E prossegue o relatório a descrição dantesca da realidade:
[...] Houve uma morte em que um preso, que já matou cinco na unidade, esfaqueou outro preso, decapitou-o e o estripou, espalhando suas vísceras pela cela e ainda comeu parte do fígado da vítima. Uma total selvageria sem controle ou punição.O cenário bárbaro acima narrado, porém, vem sendo francamente desprezado, velado, esquecido ou ignorado no habitus dos que atuam na segurança pública. A máquina de moer gente continua funcionando loucamente. E as vozes de alerta há anos vêm fazendo o mesmo para ouvidos de surdos. Uma hora o vulcão irromperia. E então eu retruco ao meu amigo com uma nova indagação: sistema carcerário potiguar. Ca(os)rcerário... Sistema?
* Rosivaldo Toscano dos Santos Júnior é juiz de direito no RN, mestre e doutorando em direito e membro da Associação Juízes para a Democracia - AJD
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