Sophie Scholl: o que o nazismo tem a nos ensinar?




O filme “Sophie Scholl: The Final Days” (2005), dirigido por Marc Rothemund, retrata os últimos dias da jovem que foi um dos símbolos do movimento de resistência anti-nazista chamado Rosa Branca. Ela, seu irmão e mais um companheiro de movimento foram presos sob a acusação de alta traição ao regime nazista,  interrogados, julgados sumariamente por um tribunal do Terceiro Reich e executados, tudo em apenas quatro dias.
Perderam a vida na guilhotina tão somente por expressarem ideias opostas ao regime de Hitler  eram pacifistas.
O julgamento foi um simulacro. Já entraram condenados em razão do pensamento diverso ao de um regime totalitário. Mais cinquenta membros do movimento Rosa Branca foram executados nos meses seguintes.
Histórias como essa relatada no filme nos fazem refletir. A democracia é um valor muito importante, mas que, no dia-a-dia, entendemos apenas como a liberdade de expressarmos nossas opiniões. O filme faz ver a importância de dar voz e vez às minorias e às ideias opostas. E de ter abertura para elas. De fazer o exercício de se por no lugar do outro. Isto é, ter alteridade. A alteridade que possibilita nosso crescimento, para que não nos fossilizemos em nossas pretensas verdades. E os efeitos e perigos são muito maiores quando há relações de poder estatal em jogo, como a história alemã mostrou.
Sempre haverá o poder. E o desejo de poder no ser humano (sou Nietzscheano, nesse ponto) que, não raro, é destrutivo e opressor. Não creio, também, que o poder seja algo apropriável. O poder é exercício. E sua legitimação se dá de baixo para cima e da periferia para o centro, isto é, das massas para as elites, como foi o que ocorreu na Alemanha, embora que muitas vezes o povo não perceba que o poder está em suas mãos e que nem sempre é utilizado em seu benefício. Hitler só cresceu porque tinha efetivo apoio popular. Disso a sociedade alemã não pode se escusar.
Assim, como o poder não é algo apropriável, não haverá revoluções e nem regime únicos mundiais que "tomem" o poder (nem socialistas e muito menos capitalistas).
Creio que é um dever ético de cada cidadão resistir e denunciar a opressão do poder exercido de maneira desmedida. Concordo, assim, em grande parte, com o que disse Foucault sobre a questão.
O poder desmedido, portanto, oprime, pois é sempre a sujeição indigna do outro a interesses alheios (que, não raras vezes, até mesmo o opressor imediato age no interesse do poder desmedido, imaginando seu). Em todas as épocas houve e haverá o poder. Portanto, o que se deve atentar é para a forma com que dá seu uso. Todos os regimes totalitários são exercício arbitrário e desmedido de poder, de modo a abafar, oprimir, ridicularizar e desmerecer a diferença. 
A experiência da Alemanha, berço da filosofia moderna e contemporânea, demonstra que nunca podemos dizer que alcançamos a democracia plena. O que o nazismo, então, tem a nos ensinar? Que a democracia é um processo  sempre inconcluso. Democracia é, antes de tudo, uma jornada, uma grande caminhada. Pede uma atenção e um cuidado constante. A democracia exige de nós estarmos em alerta.
O filme, portanto, traz uma constatação: a de que ao invés de nos aborrecermos, devemos sempre agradecer pela oportunidade de nos deparar com ideias opostas às nossas. Elas constatam algo muito importante: o fato de que estamos caminhando... Então, que sigamos sempre!

*Rosivaldo Toscano dos Santos Júnior é juiz de direito e membro da Associação Juízes para a Democracia - AJD


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