Matuto Togado
Sujeito nascido e criado na capital, tive pouco contato com a vida no campo. As lembranças que tenho da infância no interior ocorriam uma vez por ano, quando íamos à fazenda de um amigo do meu pai para as festas juninas. O sertão se resumia a uma noite com céu estrelado, fogueira, milho assado, canjica, fogos e dança de quadrilha. Não mais.
Quando ingressei na magistratura, fui designado juiz substituto da Comarca de Almino Afonso, alto sertão potiguar. Olhei no mapa. Eram 330km da capital.
Tinha uns seis meses lá na comarca quando aceitei o convite de um desembargador amigo, hoje já aposentado, para ir conhecer uma das fazendas que ele possuía na mesma região. Alertou-me que precisaria ir de botas porque era época de chuva e tinha muita lama.
Entusiasmado com a nova experiência, comprei um par de botas, vesti uma calça jeans e uma camisa quadriculada. Só faltou um cinto daqueles com fivelão para completar a fantasia de cowboy. O pior é que o amigo me perguntou se eu queria acompanhá-lo durante toda a tarde, pois entraria no mato e faria uma vistoria nas plantações e criações. Disse a ele:
- Olha, a partir de agora sou peão. Não se preocupe comigo. Será uma terapia pra mim. Quero ajudar no trabalho lá.
Já na fazenda, fui apresentado à peãozada e logo fomos a um local em que havia uma criação de caprinos. Era um cercado com mais de uma centena de animais. Muitos filhotes estavam desnutridos porque o leite petrificava nas tetas das cabras e os cabritinhos não conseguiam sugá-lo. Minha tarefa seria caçar no cercadinho as cabras para que o peão chegasse com um cabrito faminto e um pano úmido para desobstruir as tetas – permitindo que o cabritinho mamasse.
Segurei a primeira cabra e chamei um peão. Ele veio com o cabritinho nas mãos, segurou o bichinho entre as pernas, desobstruiu as tetas da cabra e o colocou pra mamar. Quando o animalzinho se saciou, a cabra foi marcada com um pincel, soltei-a e fui para a próxima. Fiz isso uma, duas, três vezes.
Na quarta vez peguei uma cabra maior pelos chifres. Essa era forte demais e balançava com vigor a cabeça, tentando se desvencilhar de mim.
Estava numa luta danada com o irascível animal quando, entre risos de todos os peões, o desembargador gritou de longe:
- Solta, Rosivaldo, solta!
Sem entender, já que estava cumprindo tão bem meu papel de peão, perguntei:
- Soltar por quê?
Morrendo de rir, ele me respondeu:
- Vai colocar o cabritinho pra mamar em um bode?
No meio de toda a peãozada foi que me dei conta de que o verdadeiro matuto lá era eu. Um matuto togado!
E assim terminou minha curta e mal-sucedida carreira de cowboy...
Quando ingressei na magistratura, fui designado juiz substituto da Comarca de Almino Afonso, alto sertão potiguar. Olhei no mapa. Eram 330km da capital.
Tinha uns seis meses lá na comarca quando aceitei o convite de um desembargador amigo, hoje já aposentado, para ir conhecer uma das fazendas que ele possuía na mesma região. Alertou-me que precisaria ir de botas porque era época de chuva e tinha muita lama.
Entusiasmado com a nova experiência, comprei um par de botas, vesti uma calça jeans e uma camisa quadriculada. Só faltou um cinto daqueles com fivelão para completar a fantasia de cowboy. O pior é que o amigo me perguntou se eu queria acompanhá-lo durante toda a tarde, pois entraria no mato e faria uma vistoria nas plantações e criações. Disse a ele:
- Olha, a partir de agora sou peão. Não se preocupe comigo. Será uma terapia pra mim. Quero ajudar no trabalho lá.
Já na fazenda, fui apresentado à peãozada e logo fomos a um local em que havia uma criação de caprinos. Era um cercado com mais de uma centena de animais. Muitos filhotes estavam desnutridos porque o leite petrificava nas tetas das cabras e os cabritinhos não conseguiam sugá-lo. Minha tarefa seria caçar no cercadinho as cabras para que o peão chegasse com um cabrito faminto e um pano úmido para desobstruir as tetas – permitindo que o cabritinho mamasse.
Segurei a primeira cabra e chamei um peão. Ele veio com o cabritinho nas mãos, segurou o bichinho entre as pernas, desobstruiu as tetas da cabra e o colocou pra mamar. Quando o animalzinho se saciou, a cabra foi marcada com um pincel, soltei-a e fui para a próxima. Fiz isso uma, duas, três vezes.
Na quarta vez peguei uma cabra maior pelos chifres. Essa era forte demais e balançava com vigor a cabeça, tentando se desvencilhar de mim.
Estava numa luta danada com o irascível animal quando, entre risos de todos os peões, o desembargador gritou de longe:
- Solta, Rosivaldo, solta!
Sem entender, já que estava cumprindo tão bem meu papel de peão, perguntei:
- Soltar por quê?
Morrendo de rir, ele me respondeu:
- Vai colocar o cabritinho pra mamar em um bode?
No meio de toda a peãozada foi que me dei conta de que o verdadeiro matuto lá era eu. Um matuto togado!
E assim terminou minha curta e mal-sucedida carreira de cowboy...
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK! Desculpe-me Dr! Muito legal Júnior!!!Histórias como a sua, ultrapassam a barreira do tempo, do esquecimento e de uma forma muito especial não é verdade? Bom contar e melhor ainda ouvir.
ResponderExcluirQuê experiência, hem, Dr. Muito boa essa.
ResponderExcluirUm abraço!
Grande Júnior,
ResponderExcluirAinda bem que você só estava segurando as cabras pros cabritinhos mamarem, pior seria se você tivesse ordenhando, hein?! O mesmo erro seria terrível...
Abraço,
Leandro Véras
hahahah...imagino a cena,,,,sem comentários prof.
ResponderExcluirimpagável! isso mostra que não podemos dominar todas as áreas do conhecimento. e é provável que em seu lugar eu tivesse feito coisa bem pior, rsrsrs
ResponderExcluirPorque será que não consigo abrir a postagem sobre o dependente químico? Só dá mensagem de erro!
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