Protesto pela Legalização da Maconha em Portugal
Estou de férias em Portugal. Ontem passeei a pé pelo centro da cidade do Porto e vi duas manifestações que me fizeram refletir. A primeira foi uma concentração a favor da descriminalização da maconha. A segunda uma passeata com milhares de pessoas, pelo dia do trabalho.
Em relação à descriminalização, procurei ter um olhar isento de preconceitos e não julgar o movimento com base no estereótipo do discurso contra o “maconheiro”. Andei por dentro da aglomeração e observei. Eram centenas de pessoas, na maioria jovens entre 20 e 30 anos, na Praça do Marquês, uma das mais conhecidas da cidade. O chavão era “deixem de hipocrisia”, regado a música Techno e a discursos.
Segundo se dizia lá, a legalização iria separar o mercado das drogas leves do mercado das drogas pesadas. Teria ocorrido isso na Holanda. Outro ponto era de que os efeitos do consumo da maconha não seriam piores do que os do tabaco ou álcool.
É bem verdade que a maconha possui algumas propriedades terapêuticas. Contudo, a experiência que tenho com dependentes químicos é de perda da capacidade cognitiva.
Mas ao mesmo tempo me pergunto sobre as drogas lícitas. Teriam o álcool e o tabaco os efeitos menores? Acredito que não. O álcool degenerando muitas vidas e muitos lares. O tabaco matando silenciosamente e causando prejuízos consideráveis aos sistemas públicos e privados de saúde, haja vista os patentes casos de câncer decorrentes do tabagismo.
Refletindo sobre a realidade no Brasil, legalizar ou não, uma coisa é certa: necessitamos desenvolver o enfrentamento terapêutico da dependência química e também aprimorar o combate ao tráfico. Na prática, o que terminamos por fazer é por na cadeia quem deveria estar em tratamento - os pequenos e miseráveis traficantes, carentes não só de recursos financeiros como também de motivos, estímulos e meios para deixar o vício. Apenas lidamos com a conseqüência (traficância para manutenção do vício ) do problema como se fosse causa da disseminação das drogas. Nunca obteremos sucesso agindo assim, pois logo que saem da cadeia voltam a consumir e a vender. Essa é uma convicção que a cada dia tenho mais sólida. A experiência mostra isso patentemente.
Mas os membros do sistema repressivo andam como uma manada em direção ao abismo. Ninguém se questiona, ninguém propõe. Atuamos repressivamente e a cada insucesso mais reforçamos a maneira errada de enfrentamento, que é exatamente dar ênfase ao encarceramento nos casos de dependência química.
A verdadeira causa, a traficância em massa – os grandes distribuidores –, não é alcançada pelo despreparo dos órgãos de investigação e/ou pelo acesso desses traficantes ao núcleo do poder, em especial com membros das próprias instituições encarregadas de combatê-los.
No próximo post comentarei a manifestação pelo Dia do Trabalho em Portugal.
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