OS SONETOS DA JUSTIÇA

OS SONETOS DA JUSTIÇA
O Direito que é, por um lado, a prosa, torna-se, na luta por uma idéia, em poesia, porque a luta pelo direito é, na verdade, a poesia do caráter.
Rudolf Von Ihering

O JUIZ
Vem, baluarte do Direito que está posto,
Trazer justiça - tua meta prometida.
Sabe que Themis, com a venda no seu rosto,
É o lenitivo para os fracos, sem guarida.

Põe a eqüidade além da norma, aquém de Deus,
Na salvação dos que sofregam a violência.
Sê um escudo a acolher os irmãos teus
Dos descalabros dos que visam à prepotência.

Se é a justiça a grande meta a perseguir,
Rasga até a lei, se injusta for e, doravante,
Sai na defesa dos que anseiam um bom porvir.

Vem acudir os inocentes do tormento,
Surra tua toga com coragem de gigante!
- Tu, magistrado, és o arauto do bom senso.

O PROMOTOR DE JUSTIÇA
Teu Ministério é dos mais nobres vocativos.
O enfrentamento é diário no anseio
De defender os interesses coletivos,
Contrariando poderosos nos permeios...

Quantos se foram, chacinados, desde então...
As ameaças, os ardis no Tribunal.
Mas tua voz a retumbar se fez trovão –
Tremem os jurados de emoção quando ao final.

Em causas outras, já nas esferas privadas...
Como fiscal ou como parte interessada,
Imprescindível é tua ouvida, nunca ausente,

Mas sê discreto, não há louros, só espinhos...
Tua consciência é companheira no caminho...
Brada, Parquet, a voz do povo, a tua gente!

O ADVOGADO
Advogado, ao bom direito dá acolhida,
Traze contigo a pretensão sempre embasada,
Joga a chicana na sarjeta, decaída,
Porque o Direito não se cava com a enxada.

Faze leal a quem te enfrenta nas questões
Mas não permite ao outro provas falseadas!
Não desanima com falácias e chavões:
Mostra a verdade, pra ficar bem destacada.

Mesmo que a causa lhe pareça impossível,
Contida a angústia, permanecendo irascível
- Nunca confunde o Direito com a lei...

Não te direi que sempre o justo é o que impera
(o ser humano é, ao mesmo tempo, a presa e a Fera)
- Mas tua beca brilhará como a de um rei!

A VÍTIMA

Não há quem possa reverter teu pranto.
As aflições que te impuseram, então...
Mas vens a mim clamar justiça, enquanto
Coloco a destra na própria emoção...

Porém, não peças que te sare as dores
Sem desnudar os véus da realidade.
Pois meu mister se faz sem dissabores:
Uma jornada em busca da verdade!

Não perde, ó vítima, a tua esperança...
Porém, não implore abusos ou vinganças:
Um bom Juiz nisso jamais se agrada...

Mas comprovada a injustiça, a espada
Derrubará, num golpe fulminante,
Até o mais alto e forte dos gigantes.

O BANCO DOS RÉUS
Quem se senta nesse banco é malfadado.
Mesmo que absolvição venha a surgir,
Um inocente poderá ser maculado
Pela marca de ser posto um dia ali.

Pois os leigos são usuais prejulgadores,
Não entendendo o mecanismo processual.
Comentários maliciosos causam dores...
Sofrem o réu e sua família, no geral.

Quando alguém em condenar se regozija
Quem no banco dos réus ainda agoniza,
Não percebe que pratica grande asneira.

Se voltasse dois mil anos no passado
Assombrado assistiria a um triste fado:
Até o Cristo já sentou nessa cadeira!

Comentários

  1. Adorei o texto, além de ser a realidade do direito traduzem emoção; sinceridade. Amei o seu blog parabens pelo seu trabalho a justiça precisa de pessoas como vc,corajoso digno do cargo que ocupa, certamente um ser humano humilde sensível aos problemas sociais de nosso pais e acima de tudo comprometido com a verdade e com a justiça.

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