A Juíza Mirandinha

Em sua primeira Comarca, Pendências, a juíza Rossana Alzir Diógenes era uma jovem de apenas vinte e quatro anos. Recém chegada na cidade, poucos ainda a conheciam. Como não havia conseguido casa disponível, o jeito foi alugar um quarto na melhor pensão existente. E numa das primeiras vezes que saiu do fórum para o estabelecimento de repouso, a fez a pé. Não distava mais de trezentos metros um local do outro.
Durante o trajeto, percebeu um mexerico nos locais por onde passava, e logo o povo acudiu às janelas para observá-la. Eram dezenas de janelas e portinholas espreitando a nova magistrada da Comarca, por certo espantados com a sua juventude. Estranhou mais um fato. As crianças ficavam gritando pelo nome de Mirandinha. Algumas gritavam e se escondiam. Outras foram mais afoitas e chegaram perto sorrindo e pronunciando o dito nome. Ainda a acompanharam por alguns metros.
Continuando a caminhada, logo passou por uns rapazes a jovem corada e bem trajada transeunte, para o deleite do grupo. Olharam-na com atenção. Quando já estava se distanciado, ouviu um som estranho repetidas vezes, oriundo dos rapazes. Não deu muita atenção, mas logo ouviu quando alguém bradou:
- "Homi", "cês" tão "doido". É a nova juíza!
- Nossa Senhora!
- Vixe!
- Vamo embora logo! - E saíram em desbaratada correria.
Ao chegar na pensão, a magistrada narrou à proprietária os episódios ocorridos, e esta começou a rir.
- Ah! Minha filha, digo, doutora. Mirandinha é a juíza da novela das oito.
- E o barulho que os rapazes fizeram?
- É assim, é? - e fez o mesmo barulho com biquinho e puxando o ar para dentro, com força.
- Exatamente.
- É o “coió”.
- O que é isso?
- É um assobio pra paquerar. Devem ter tomado um susto grande quando alguém disse que a senhora era a juíza.
Começaram as duas a rir descontraidamente.

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