Infeliz Testemunha Irracional

Um juiz foi fazer uma audiência do Juizado Cível numa das Comarcas que passou, quando se deparou com uma situação nada comum.
Dois maltrapilhos vizinhos, ambos já na faixa dos sessenta e tantos anos, disputavam a propriedade de uma suína. Porca vai, porca vem, durante a tentativa de conciliação, um deles, réu na causa, disse o seguinte para o outro:
– Olha, João, você está dizendo isso tudo, que a porca lhe pertence e coisa e tal. Mas cadê as testemunhas pra provar, hein?
Indignado com o que questionara a parte adversa, o requerente foi tomado de inquietação. Balançou-se sobre a cadeira. Silenciou por uns instantes, procurando na cabeça alguém que pudesse atestar a propriedade do animal. Eis que de repente levantou o braço, após seu rosto apresentar uma feição de alegria, e respondeu, convicto:
– Eu tenho. Tenho sim, doutor – já se dirigindo para o magistrado.
A outra parte, surpreendida com a afirmação, foi logo perguntando:
– Ah! Tem, é? E quem é? – com os braços à altura da cintura, desafiador.
– Ora, ora. Genésia!
O requerido coçou a cabeça tentando lembrar quem seria aquela senhora.
– Genésia? Que Genésia?
– Essa mesma.
– Quem? – perguntou o requerido.
– A porca! – respondeu o autor – Ela é testemunha de tudo. É só soltá-la para ver se ela não vai lá diretinho para o meu chiqueiro!
O trágico e inusitado dessa história toda é que fizeram um acordo na própria audiência. Mas foi um pacto que não fez nenhum bem à Genésia. Pelo contrário. Decidiram simplesmente repartir a coitada da porca. Uma “banda” para cada um.
Infeliz testemunha irracional. Dias depois virou churrasco ou feijoada no prato de alguém...

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