O Diabinho
- Meu Deus!! Que fiz eu para merecer um filho tão traquinas ?! — Já dizia meu pai, enquanto arrancava os heroicos fios-de-cabelo que ainda restavam da sua vasta cabeleira de juventude. Exageros de pai neurótico. O máximo que fiz na minha infância foi atear fogo no meu quarto. Mas se fosse no quarto deles tudo bem. Além do mais a cozinha e o aquário da sala de estar ficaram praticamente intactos, apesar dos peixes terem sido literalmente cozidos.
Percebi que desde a infância tive tendência para a pesquisa, para a ciência. Lembro da vez que coloquei em prática a grande descoberta de Isac Newton: a lei da gravidade. joguei um gato do terceiro andar. Realmente o gato tem sete vidas mas este já devia ter gastado umas seis.
Às vezes me pergunto por que não ingressei em nenhum curso da àrea de Engenharia. Era ótimo em desmontar os brinquedos meus e dos amiginhos. Acho que nasci com esta qualidade. A natureza só não me deu a capacidade de remontá-los.
Pensei em ser piloto de corridas. Adorava assistir a Speed Racer na TV. mas desisti quando meu pai deixou uma dia a chave do automóvel na ignição. Resultado: um muro derrubado.
Era também muito motivado na arte futebolística. Podia não ser bom no ataque mas na defesa era garantido: só a bola passava por mim intacta. Passei um tempo tomando aulas de karatê com um amigo para melhorar meu desempenho dentro de campo.
Na rua, sempre fui um garoto magricela e medonho. Adorava assustar os meninos quando saía com Manuela, minha rã de estimação que, por sinal, morreu de forma avassaladora: foi atropelada pelo caminhão do lixo.
Tragédias à parte, eu era muito querido entre a garotada. Cheguei até a ser eleito, por méritos próprios — modéstia à parte — o "diabinho da rua", pela facilidade que tinha em chamar os colegas da vizinhança para compartilhar das brincadeiras que inventava, tais como: ovo-no-ônibus, tica-e-cospe, lançamento de pedras, que aliás foi extinta após dois para-brisas de automóvel e uma vidraça quebrados, e a melhor e mais emocionante de todas: o "safari":
Consistia em sairmos à noitinha, na hora do jantar. Armados de espingardas de chumbinho, pulávamos o muro da casa de seu Manoel careca, que criava galinhas soltas no seu imenso quintal. "Có-coricó" e penas pra todo lado. Era demais! Chegamos a matar cinco desses ferozes e destemidos animais em apenas uma investida!
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