O Assassinato de Guiné

Essa história aconteceu na comarca de Campo Grande, com uma colega.
Àquela época a cidade do Oeste Potiguar passava por um momento delicado de insegurança. Havia poucos dias um grupo assaltara a agência do Banco do Brasil, levando como reféns o delegado da cidade e o gerente da instituição financeira! A população ainda estava apavorada, temendo o retorno da quadrilha de assaltantes à cidade.
Era uma tarde de audiências, por volta das quatro e meia. No gabinete se encontravam a juíza, o promotor de justiça, um advogado e as partes de uma audiência cível, além de um servidor que digitava o termo de audiência.
O fórum se localizava no centro da pequena cidade, que há época não contava nem oito mil habitantes. Mas logo atrás havia um matagal e um sítio. Eis que de repente se ouve um estrondo. Barulho de tiro. E entra alvoroçado e assustado o escrivão, gritando:
- Doutora, vala-me Jesus Cristo!
- O que foi que houve?
- Estão atirando no fórum!
O diligente Promotor de Justiça, jovem e destemido, não contou conversa. Sacou uma arma de fogo, indagou de onde os tiros vinham, e saiu correndo. Todos o acompanharam e o assistiram pular o muro lateral do prédio e entrar no mato árido, enquanto a juíza o pedia para que não fosse se arriscar.
Poucos segundos se passaram quando o escrivão retorna aos berros:
- É o vizinho matando guiné!
A juíza conseguiu colcar a cabeça por sobre o muro e repassou a informação ao Promotor:
- Pode voltar. É o vizinho que está matando guiné!
Ainda tomado do susto, e sem compreender as gírias potiguares, o Promotor de Justiça, que era da Região Sudeste, indagou, confuso, uma vez que não seria possível ficar calmo enquanto alguém estava sendo morto:
- Quem é Guiné? Vizinho dele?
- Guiné é uma ave!
Minutos depois foram ao local. Era costume matar guinés a tiros de espingarda de soca. Após, foram todos ao sítio vizinho. O promotor então visualizou o pássaro morto, e sorriu:
- Ah! É esse bichinho aí? Se tivessem me dito que era galinha de angola, eu teria entendido...
E voltaram todos ao trabalho naquela cálida tarde do sertão. Ao escrivão, apenas um copo de garapa. Para quem não sabe o que é, é água com açúcar, para acalmar...

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