Empate no Júri
Há muitos anos, numa determinada comarca do sertão do Rio Grande do Norte, durante um Júri, promotor e defensor duelavam na oratória. O réu, senhor de já alguma idade, matara um vizinho por ter sido chamado do nome de um mamífero da ordem dos artiodáctilos, da família dos Cervidae, comumente conhecido como veado...
Numa região em que a figura do “cabra macho” representa mais do que tudo a fortaleza física e moral do homem do campo, o insulto acima, segundo o defensor, ganharia ares insuportáveis para o acusado. Portanto, teria agido em legítima defesa da honra. E continuou, na réplica, dizendo que a região anal do homem devia ser respeitada.
Via de regra, o Júri é um teatro em que mais vale a atuação do atores do que o enredo da história. E para se obter uma performance que agrade a platéia de sete jurados, às vezes ocorrem verdadeiros shows de comédia.
Pois bem, o magistrado que presidia o Júri, já enfadado das horas e horas de “banho Maria” dos debates, perdeu a atenção e passou a ler mais detidamente um livro de direito penal.
Enquanto isso, aproveitando-se da distração do juiz, o defensor do acusado, muito sagaz e experiente, uniu os dedos indicador e polegar, formando um círculo, e os mostrou aos jurados, dizendo:
– Isso num homem tem que ser respeitado! – balançando o braço para cima e para baixo. – No meu aqui ninguém, (dando ainda mais ênfase ao gesto) ninguém mexe e nem fala mal! E se mexer com ele ou falar mal eu meto a faca!
O jovem e destemido Promotor de Justiça, indignado com o que acabara de fazer o defensor, brada para o magistrado:
– Doutor! Olha só o que o defensor tá fazendo! Gestos obscenos aqui em pleno júri! Vou pedir sua prisão!
O magistrado, de sobressalto, perguntou ao promotor o que havia feito o defensor, ao que ele, ingenuamente, repete o gesto com a mesma ênfase.
O defensor, macaco velho de Júri, não perdoou e emendou:
– Agora "tá" um a um! Ou deixa pra lá ou vamos os dois pra delegacia!
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